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A desigualdade no tratamento da obesidade no Brasil: o caso Ozempic


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A desigualdade no tratamento da obesidade no Brasil: o caso Ozempic

A desigualdade no acesso a tratamentos contra a obesidade no Brasil é um problema que tende a se aprofundar nos próximos anos, segundo o relato do endocrinologista Walmir Coutinho. Neste contexto, o Índice de Massa Corporal (IMC) é utilizado para classificar se uma pessoa está dentro dos parâmetros considerados saudáveis ou não. Um quadro de sobrepeso é identificado quando o IMC varia entre 25 e 29,9, e acima de 30 já estamos diante da obesidade.

De um lado, o campo da Medicina encontra-se em crescimento, com a aprovação de remédios eficazes na redução de peso, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro. No entanto, essas opções são caras e inacessíveis para a maior parte da população, especialmente os mais pobres. Por outro lado, a obesidade afeta cada vez mais brasileiros, com a tendência de aumento nos próximos anos.

A solução para essa equação, que envolve garantir o acesso aos remédios antiobesidade àqueles que mais precisam, é um desafio. A BBC News Brasil entrevistou representantes de diversos setores para entender as possíveis saídas diante desse dilema atual.

O nutricionista e epidemiologista Rafael Claro explica que doenças crônicas como diabetes, hipertensão e colesterol alto, assim como a obesidade, historicamente têm sido mais comuns em grupos com melhores condições socioeconômicas. Isso acontecia porque no passado a alimentação que levava à obesidade era cara, assim como os estilos de vida sedentários estavam relacionados a trabalhos de escritório e a lazeres acessíveis apenas aos mais ricos.

No entanto, ao longo do tempo, essa carga se deslocou dos indivíduos mais ricos para os mais pobres. Hoje em dia, a alimentação saudável, baseada em alimentos in natura, custa mais caro do que a comida ultraprocessada e não saudável. Além disso, as ocupações tornaram-se mais sedentárias, sendo necessário morar em lugares seguros e com infraestrutura adequada para ter acesso a um lazer ativo.

Diante desse cenário, é essencial encontrar maneiras de tornar os tratamentos para a obesidade mais acessíveis, considerando as questões econômicas e sociais envolvidas. Ações voltadas para a educação alimentar, incentivo à prática de atividades físicas e políticas de saúde pública podem ser algumas alternativas para enfrentar essa desigualdade e promover uma redução efetiva nos casos de obesidade.

A obesidade no Brasil está se tornando uma preocupação cada vez maior, especialmente entre as pessoas de baixa renda. De acordo com pesquisas, atualmente, 20,1% dos brasileiros são obesos, e esse número tende a aumentar para 24,5% até 2030. Isso significa que um quarto da população brasileira terá uma condição crônica relacionada a doenças graves, como as cardiovasculares e o câncer. A falta de escolaridade e a condição econômica desfavorável são fatores associados a esse fenômeno.

Especialistas afirmam que, nos próximos 50 anos, a obesidade terá um impacto significativo na saúde pública e na economia do país. Portanto, é essencial que haja uma mobilização adequada para enfrentar esse problema. Embora a prática de exercícios e uma alimentação saudável sejam a base do tratamento da obesidade, a busca por opções farmacológicas eficazes tem sido uma esperança.

Anteriormente, as opções de medicamentos para tratar a obesidade eram limitadas e os resultados não eram muito satisfatórios. Remédios como a sibutramina e o orlistate causavam uma perda de peso de apenas 5 a 10%. No entanto, nos últimos anos, surgiram novas alternativas promissoras.

A liraglutida e a semaglutida, que pertencem à classe dos análogos de GLP-1, demonstraram ser capazes de reduzir o apetite e induzir a perda de peso. Enquanto a liraglutida precisa ser aplicada diariamente, a semaglutida só precisa ser injetada uma vez por semana.

Além disso, a semaglutida em sua forma de injeção de 2,4 mg, conhecida como Wegovy, mostrou resultados impressionantes nos estudos, com uma média de perda de peso de 17%. Isso supera as opções farmacológicas anteriores disponíveis. Outro medicamento recente é a tirzepatida, da empresa Eli Lilly.

Com o aumento da obesidade no país, esses medicamentos representam uma esperança para as pessoas que buscam perder peso de forma mais eficaz. No entanto, é importante ressaltar que a prática de exercícios físicos e uma alimentação balanceada continuam sendo fundamentais para o tratamento da obesidade.

Um novo tratamento para obesidade está despertando grandes expectativas. A droga chamada tirzepatida, que já foi aprovada para o tratamento de diabetes tipo 2, está sendo testada como um possível tratamento para combater a obesidade. Estudos recentes mostraram que a tirzepatida proporcionou uma redução de peso de aproximadamente 26% ou cerca de 28 quilos. Essa taxa de emagrecimento é comparável ou até mesmo superior aos resultados obtidos com a cirurgia bariátrica.

O avanço no tratamento da obesidade é considerado uma era de ouro pelos especialistas. Com o uso de medicamentos e procedimentos cirúrgicos disponíveis atualmente, é possível tratar uma grande variedade de pacientes, desde casos leves até casos extremamente graves. Essas opções terapêuticas modernas podem ajudar a tirar pacientes das listas de espera para transplantes e prevenir complicações que poderiam levar à morte.

No entanto, é importante ressaltar que essas opções terapêuticas, como a tirzepatida, devem ser utilizadas de forma contínua. Caso o paciente interrompa o uso do medicamento, há chances de que o peso perdido durante o tratamento seja recuperado.

Apesar dos benefícios, um obstáculo para o tratamento da obesidade é o custo desses medicamentos. A tirzepatida, por exemplo, tem um valor relativamente alto, chegando a custar cerca de R$ 1.000,00 por mês. A versão da semaglutida para tratar a obesidade, chamada Wegovy, também possui preços elevados, variando de R$ 1.220,00 a R$ 2.383,00, de acordo com a dosagem.

Esses valores muitas vezes ultrapassam o salário mínimo estabelecido para o ano e tornam o tratamento inacessível para a parcela mais pobre da população, que é justamente aquela que sofre os maiores impactos da obesidade.

Para tornar esses tratamentos disponíveis para todos, seria necessário que o Ministério da Saúde incorporasse essas drogas no SUS após uma avaliação rigorosa da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias. Os especialistas analisam os benefícios em comparação com os tratamentos existentes, os efeitos colaterais, o custo e o impacto no orçamento antes de tomar uma decisão.

Um estudo realizado pela Conitec, comissão responsável por avaliar a incorporação de novas drogas no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, revelou que a liraglutida, um medicamento utilizado no tratamento da obesidade, não foi recomendado para ser disponibilizado na rede pública devido a questões de custo e efetividade.

A análise econômica mostrou que oferecer o medicamento a 2,8 milhões de pessoas resultaria em um impacto orçamentário de R$ 12,6 bilhões em 5 anos. Além disso, o preço do medicamento nas farmácias é cerca de metade do valor médio do Ozempic, outro tratamento para obesidade.

O Ministério da Saúde ressaltou que a obesidade é um problema de saúde pública reconhecido desde a década de 1990 e que vem promovendo esforços para a prevenção e cuidado com essa condição. No entanto, atualmente não há demanda para avaliação de novos medicamentos para obesidade na Conitec.

A rede pública de saúde no Brasil enfatiza a importância da atividade física, alimentação saudável e suporte psicológico como pilares para o tratamento da obesidade. Pacientes com obesidade podem ser tratados no SUS, embora o tratamento medicamentoso não esteja disponível.

É fundamental considerar o orçamento limitado da saúde pública e a necessidade de atender a todas as demandas da população. Avaliações detalhadas são realizadas para determinar a incorporação de novas opções terapêuticas no SUS, levando em conta o custo e a efetividade das tecnologias.

Essas análises são conduzidas pela Conitec, que realiza também um monitoramento de horizonte tecnológico para identificar possíveis tecnologias semelhantes que possam ser incorporadas no futuro. A decisão de incorporação no SUS é feita com base no parecer técnico dos especialistas e considera o impacto no orçamento e a capacidade de atender às demandas de saúde da população.

No Brasil, a obesidade é uma preocupação crescente, com previsão de que um quarto da população esteja obesa até 2030. É necessário um esforço conjunto para prevenir e tratar essa condição, explorando diferentes abordagens de cuidado e considerando aspectos econômicos para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde.

O tratamento da obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta desafios e críticas de especialistas e empresas farmacêuticas. De acordo com o Ministério da Saúde, a falta de medicamentos para tratar a obesidade pelo SUS impede de alcançar objetivos como a redução da gordura corporal, a manutenção da perda de peso e a promoção de escolhas alimentares saudáveis.

A empresa responsável pelos medicamentos liraglutida e semaglutida, afirmou que seguiu todas as diretrizes estabelecidas pelo governo na submissão do Saxenda (liraglutida 3 mg) ao SUS. No entanto, a inclusão do medicamento no sistema de saúde foi adiada em função de questões orçamentárias.

De acordo com especialistas, a falta de remédios para tratar a obesidade no SUS é um problema sério. Eles argumentam que basear o tratamento apenas em dieta e exercício físico não é efetivo no longo prazo, uma vez que é comum o paciente recuperar todo o peso perdido após alguns anos.

Em um editorial publicado no periódico The Lancet, especialistas afirmam que a falta de remédios contra a obesidade é sintoma de um problema maior. Eles defendem que a prevenção e o tratamento são abordagens complementares e necessárias para resolver efetivamente o problema.

Para a epidemiologista nutricional Rosely Sichieri, é necessário combater o problema da obesidade desde sua base. Ela aponta que a indústria alimentícia e a indústria farmacêutica têm interesses distintos que muitas vezes não estão alinhados com a saúde pública.

Segundo a especialista, o problema da obesidade deve ser atacado em sua raiz, levando em consideração ações de prevenção, tratamento e mudanças na indústria alimentícia.

Um medicamento utilizado no tratamento da obesidade tem sido bastante procurado por pessoas que desejam emagrecer de forma rápida. No entanto, especialistas alertam que a questão da obesidade é complexa e requer mudanças estruturais na sociedade.

De acordo com pesquisadores, a obesidade é um problema estrutural que está relacionado até mesmo com a política agrícola do país. É necessário repensar formas de investir em uma agricultura periurbana, que traga alimentos saudáveis para as cidades, e não apenas em commodities.

Em relação aos medicamentos antiobesidade, especialistas apontam algumas possibilidades para melhorar o acesso desses tratamentos às pessoas que mais precisam. Uma delas é a queda das patentes dessas substâncias. No entanto, há ações judiciais em andamento com o objetivo de estender o prazo de validade da patente de um desses medicamentos.

A chegada de novos concorrentes no mercado pode contribuir para a redução dos preços desses medicamentos. Além disso, é necessário um diálogo contínuo entre governos, empresas, médicos e pacientes para encontrar uma solução favorável a todos.

Os especialistas ressaltam a importância de encontrar uma solução para ampliar o acesso aos agentes antiobesidade, uma vez que a obesidade mata quatro milhões de pessoas por ano, em comparação com as duas a três milhões de mortes causadas pela covid-19 no pior ano da pandemia.






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