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A História do Entrudo: O Antecessor do Carnaval que Foi Banido em Cidades do Brasil


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A História do Entrudo: O Antecessor do Carnaval que Foi Banido em Cidades do Brasil

No período que antecede a Quaresma, existia uma festa chamada entrudo que precedeu o carnaval no Brasil. Essa celebração era trazida pelos colonizadores portugueses e era uma oportunidade para extravasar e brincar antes dos dias de penitência.

No entanto, no Brasil pós-independência, o entrudo começou a ser visto como uma festa grosseira e selvagem, prejudicando a imagem do país. Por isso, enfrentou críticas e proibições. No Ceará, a festa foi proibida em 1893 e reiterada em 1905 pelo intendente de Fortaleza. No Rio de Janeiro, apesar das proibições repetidas, as expressões populares do período resistiram.

Uma maneira de tentar romper com o passado colonial da festa foi importar celebrações de máscaras e fantasias luxuosas, como as de Veneza e Paris. Assim, surgiu o Carnaval dos clubes e da “boa sociedade” como uma tentativa de se diferenciar da festa “incivilizada”.

A origem do entrudo remonta ao século 11 na Europa. A festividade surgiu como dias de comemoração e excessos antes da Quaresma, quando a Igreja Católica impunha restrições espirituais e alimentares em preparação para a Páscoa.

Os nomes para esse período variavam, mas “carnevale” em italiano e Carnaval em português se originaram da ideia de “adeus à carne”. Em Portugal, essas celebrações eram conhecidas como entrudo, mas não eram comuns entre as elites.

No Brasil, o entrudo teve uma grande força e alcance porque foi trazido pelas classes populares portuguesas que povoaram o país a partir do século 16. Enquanto em Portugal o entrudo não era festejado em todo o território e o Carnaval não era tão relevante, no Brasil a festa ganhou diversidade e importância ao longo dos séculos.

Nos primeiros séculos de colonização no Brasil, o entrudo – uma festa popular durante a Quaresma – foi praticado de diferentes maneiras em cada região. As primeiras referências datam entre 1520 e 1530, sugerindo que o entrudo já existia desde o início da ocupação portuguesa. Durante essa festividade, diversas brincadeiras ocorriam nas ruas, como danças, músicas, atos circenses e pegadinhas com as pessoas, como servir sopas apimentadas, sujar maçanetas com gordura fedorenta e pregar moedas falsas no chão. Essas festas ocorreram por cerca de 300 anos, até o início do século XIX, em todo o Brasil, porém com poucas informações descritas sobre os eventos. As características mais conhecidas do entrudo são baseadas nos relatos do Rio de Janeiro do século XIX, onde a cidade, como capital do país, era frequentada por visitantes de outras cidades brasileiras e estrangeiros. O pintor francês Jean-Baptiste Debret, em sua obra “Cena de Carnaval”, retratou a fabricação e venda de limões-de-cheiro, bolas feitas de laranja e cera, onde eram colocados líquidos para as brincadeiras, como água, perfumes, líquidos fedorentos ou até mesmo urina. Debret também descreveu outras brincadeiras dessa época, como pintar o rosto com polvilho e crianças molhando adultos com seringas de lata. Os relatos de estrangeiros e locais sobre o carnaval brasileiro da época influenciaram a percepção do Brasil no exterior, e o entrudo do Rio de Janeiro se tornou uma referência para outras cidades brasileiras. Vale ressaltar algumas particularidades desse evento no Rio, como a presença predominante de pessoas negras nas ruas, tanto escravos como libertos, e a relativa ausência das classes mais abastadas que preferiam evitar as condições precárias das ruas e ficavam em suas casas. Era comum jogar água nas pessoas nas ruas do Rio, e os escravos arriscavam-se a serem presos se jogassem água nos senhores. Além dos baldes, seringas também eram utilizadas para molhar as pessoas durante o entrudo.

No Brasil, a tradição do entrudo, uma festa popular que acontecia antes do carnaval, era marcada por brincadeiras nas ruas envolvendo o uso de água, zarcão, farinha e pós de sapato. Os europeus eram frequentemente alvos de piadas e imitações. No Rio de Janeiro, os relatos históricos sobre o entrudo inspiraram as formas de brincar em outras cidades.

Em Fortaleza, as brincadeiras do entrudo seguiam padrões semelhantes aos do Rio de Janeiro. A população mais popular usava baldes, cuias e seringas para molhar um ao outro, sujando com água, farinha e pós de sapato. Na metade do século 19, Fortaleza era influenciada pela cultura francesa e passava por reformas urbanas, o que levou a tentativas de proibir o entrudo e a criação de clubes recreativos para a realização de carnavalescos mais elegantes.

A partir da década de 1930, os blocos e cordões passaram a ganhar espaço nas ruas de Fortaleza, impulsionados por prêmios organizados pela rádio local. Enquanto os jornais elogiavam os desfiles dos clubes, criticavam as festas populares, atribuindo a elas desordem e deselegância. No entanto, essas festas populares continuaram existindo, agregando diferentes setores da sociedade, e surgiram agremiações populares como o bloco Prova de Fogo, que realizou seu primeiro desfile em 1936. Mesmo com as críticas, os arrastões dos “blocos dos sujos” ainda aconteciam ao fim das apresentações oficiais.

O Carnaval de Fortaleza nas décadas de 1930 e 1940 era cheio de originalidade e expressões únicas. Blocos e cordões desfilavam nas ruas com estandartes, orquestras e um baliza. No entanto, em 1965, o modelo do Carnaval foi influenciado pela adoção dos estatutos das escolas de samba do Rio de Janeiro, o que levou a uma mudança na forma de avaliação dos grupos. Com isso, a festa perdeu um pouco de sua essência e os grupos populares da época acabaram em declínio. O Carnaval é uma oportunidade para refletir sobre as tensões sociais de uma cidade e as disputas que surgem em torno das festas. Mesmo passando por várias transformações, a festa continua viva e se alimenta da mistura de culturas. No interior do Ceará e em outros estados nordestinos, a tradição do mela-mela remete ao antigo entrudo, onde as pessoas se sujam com goma e amido de milho.






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