Coletivos apontam os principais obstáculos para realizar eventos nas ruas: financiamento, questões documentais e falta de espaços adequados para apresentações
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Coletivos apontam os principais obstáculos para realizar eventos nas ruas: financiamento, questões documentais e falta de espaços adequados para apresentações
No ano de 2024, os organizadores do Carnaval de Rua do Rio de Janeiro estão enfrentando mais uma vez dificuldades devido à burocracia envolvida nessa manifestação popular. Um relatório publicado pelos Coletivos de Blocos Organizados do Rio de Janeiro revelou que 71% dos blocos avaliam a experiência de produção do Carnaval como ‘regular, ruim ou péssima’, sem nenhum deles selecionando a opção “ótimo”. Além dos custos financeiros, os envolvidos no Carnaval de rua também enfrentam problemas emocionais, tendo que lidar com indeferimentos de autorizações e exigências excessivas por parte da Prefeitura e da Riotur, levando ao cancelamento de desfiles e encarecendo os cortejos.
Os problemas enfrentados pelos blocos em 2023 incluíram falta de financiamento, liberação dos bombeiros e locais para apresentações. Até mesmo produtores culturais experientes têm ressalvas em relação ao processo de pedido de autorização, apontando falta de centralização nos pedidos e a visão do Carnaval como um evento ao invés de uma manifestação cultural.
Recentemente, houve uma discussão sobre a burocracia envolvida na organização do carnaval de rua no Rio de Janeiro. Enquanto alguns argumentam que a desburocratização tem sido um objetivo importante da Riotur, órgão responsável pelo evento, outros criticam o modelo de gestão e falta de diálogo com a empresa vencedora da licitação do Caderno de Encargos. A Liga Sebastiana, que representa vários blocos de carnaval, publicou uma carta aberta expressando sua insatisfação com a falta de acesso a verbas de patrocínio e o tratamento opressivo.
De acordo com Rita Fernandes, presidente da Liga Sebastiana, as tensões entre os grupos carnavalescos no carnaval de rua existem há muito tempo e seguem um padrão cíclico de expansão, normatização e declínio. Rita observa que atualmente o carnaval de rua está em um período de arrocho, com a redução do número de blocos desfilando. No entanto, ela acredita que isso não impedirá o ressurgimento dos blocos no futuro.
Uma das questões levantadas pelos blocos é a falta de financiamento. Atualmente, o Caderno de Encargos da Prefeitura estabelece parcerias público-privadas, em que empresas privadas financiam a infraestrutura dos desfiles em troca de exposição de marca. No entanto, os blocos defendem que o financiamento deveria vir da própria Prefeitura ou através de patrocínios diretos.
Essa polêmica reflete os desafios enfrentados no carnaval de rua do Rio de Janeiro, mas também mostra a importância do evento como parte da cultura da cidade. Resta ver como essas questões serão resolvidas e como o carnaval de rua irá evoluir nos próximos anos.
Sinto que daqui a 30 anos estaremos falando sobre os mesmos problemas do Carnaval de rua. É necessário uma resolução específica que diferencie os megablocos dos bloquinhos e que não os trate apenas como eventos. Precisamos de uma resolução específica para o Carnaval de rua e a Riotur, órgão responsável pelo turismo no Rio de Janeiro, deveria ser uma aliada, não uma adversária. Eu sou presidente de um bloco de Carnaval, e enquanto não obtiver a autorização da Prefeitura, é um verdadeiro inferno”, declara Vagner Fernandes, fundador do bloco Timoneiros da Viola.
O Marco Civil do Carnaval está parado na Câmara de Vereadores do Rio desde 2017. Mesmo sendo um evento cultural e econômico relevante, movimentando cerca de R$ 4,5 bilhões e gerando a maior arrecadação de impostos municipais, como o ISS, o Carnaval ainda não possui uma legislação específica. De acordo com a presidente da Comissão Especial de Carnaval da Câmara, Mônica Tereza Benício, a falta de vontade política tem sido o principal obstáculo para a aprovação do projeto de lei.
Benício ressalta a importância de uma sociedade civil organizada que exija a aprovação do marco civil, mas reconhece que isso é difícil devido à maioria aliada do prefeito na Câmara. No entanto, ela afirma que não vai desistir e destaca a importância cultural do Carnaval para a identidade do Rio de Janeiro. A vereadora também critica o prefeito Eduardo Paes, que se diz entusiasta do Carnaval carioca, mas não compreende as dificuldades enfrentadas pelos blocos de rua, especialmente os mais espontâneos. Benício questiona até que ponto a maior festa da cultura popular pode ser sufocada.
O pesquisador de Carnaval pela UERJ e produtor cultural, Victor Belart, aponta soluções para o futuro do Carnaval de rua. Ele defende a colaboração entre entes públicos e privados, destacando a importância de um modelo de edital para os blocos e a participação da iniciativa privada em processos além da estrutura do evento. Belart também ressalta a necessidade de uma Secretaria de Cultura atuante no Carnaval e critica a disputa entre blocos e a Riotur, afirmando que o Rio de Janeiro está perdendo a oportunidade de apresentar ao mundo a maior festa que possui, que vai além do turismo – é cultura.
