Decifrando a razão por trás da dor de cabeça após desfrutar de um delicioso vinho tinto
Compartilhe:
Decifrando a razão por trás da dor de cabeça após desfrutar de um delicioso vinho tinto
O consumo excessivo de álcool pode causar dores de cabeça, sendo o vinho tinto o principal causador. As dores de cabeça causadas pelo vinho tinto surgem mais rapidamente do que as causadas por outras bebidas alcoólicas, como o vinho branco, cerveja ou destilados.
O fígado metaboliza o álcool em duas etapas, transformando-o em acetato. A primeira etapa produz acetaldeído, uma substância tóxica e cancerígena. O acúmulo de acetaldeído é responsável pelos sintomas da ressaca, como náuseas, rubor facial e dores de cabeça. A segunda etapa é a conversão do acetaldeído em acetato pela enzima aldeído desidrogenase (ALDH).
Pessoas de ascendência asiática podem ter uma variante disfuncional da enzima ALDH2, o que resulta em um acúmulo de acetaldeído e pode causar o efeito de rubor facial. Alguns medicamentos inibem a produção de ALDH, levando a efeitos semelhantes aos da ressaca.
O vinho tinto é frequentemente associado a dores de cabeça, mas ainda não se encontrou evidências conclusivas para apoiar as hipóteses de que aminas, sulfitos ou taninos são os responsáveis. No entanto, a maior concentração de flavonoides no vinho tinto, especialmente a quercetina, pode ser a causa.
A quercetina é um tipo de flavonoide encontrado em vários alimentos, como couve, cebola, chá verde, maçãs e uvas. Estudos mostraram que a quercetina-3-glicuronídeo, um composto derivado da quercetina presente no vinho tinto, inibe fortemente a enzima ALDH2, levando ao acúmulo de acetaldeído.
É importante ressaltar que a quercetina sozinha não causa dores de cabeça. A combinação de álcool e quercetina no vinho tinto é responsável pelo acúmulo de acetaldeído venenoso.
Algumas pessoas podem beber vinho tinto sem sentir dores de cabeça, enquanto outras são mais sensíveis. Isso pode ser explicado por diversos fatores individuais, como a tolerância ao álcool, o metabolismo e a disposição genética.
Quando se trata de vinho tinto e branco, o teor de quercetina é diferente. O vinho tinto geralmente possui uma quantidade maior dessa substância em comparação ao vinho branco, mas as concentrações podem variar entre diferentes tipos e origens de vinhos tintos. Essas variações também são influenciadas por processos de fabricação, como fermentação e envelhecimento. Um estudo indicou que vinhedos que utilizam práticas para expor as uvas à luz solar, como treliças, desbaste e desfolha, podem acumular mais quercetina, resultando em vinhos de alta qualidade.
Curiosamente, a pesquisa revelou que o teor total de flavonoides, incluindo a quercetina, era quatro vezes maior em vinhos “ultra-premium” do que em vinhos de qualidade inferior. Portanto, uma forma surpreendente de evitar dores de cabeça causada pelo vinho pode ser optar por vinhos mais baratos.
Outro fator que influencia a sensibilidade e a ocorrência de dores de cabeça após consumir vinho é a diferenciação das enzimas que digerem a quercetina de uma pessoa para outra. Além disso, o acetaldeído, uma substância presente no álcool, também pode desencadear dores de cabeça em indivíduos geneticamente predispostos, como ocorre em uma proporção maior de pessoas asiáticas.
De acordo com o professor Manuel Peinado Lorca, diretor do Real Jardim Botânico da Universidade de Alcalá, na Espanha, essas descobertas destacam a importância de entender como fatores como o tipo de vinho, o processo de fabricação e a predisposição genética podem afetar a ocorrência de ressacas.
Embora ainda haja muito a ser estudado sobre o assunto, os resultados apresentados sugerem que a escolha do vinho e a consideração desses fatores podem ajudar a minimizar os efeitos indesejáveis que são frequentemente associados ao consumo de álcool.