Notícias | ‘Tive meu casamento arranjado aos 12 anos por apenas R$40’

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‘Tive meu casamento arranjado aos 12 anos por apenas R$40’


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‘Tive meu casamento arranjado aos 12 anos por apenas R$40’

No sul do Maláui, no sudeste da África, estão surgindo sinais de mudança em relação ao casamento infantil. Tamara, uma adolescente de 13 anos, foi uma das vítimas desse problema no país. Grávida de 9 meses, ela foi abandonada pelo marido, um homem de vinte e poucos anos. Depois que os serviços sociais a resgataram de seu casamento ilegal, o homem fugiu antes de sua chegada, deixando Tamara sozinha em uma pequena cabana por meses.

Tamara, que vive em uma comunidade agrícola na região rural de Neno, nasceu em uma família que vivia abaixo da linha da pobreza, assim como muitas outras pessoas naquela área. A situação financeira do país piorou devido à interrupção do fornecimento de trigo e fertilizantes causada pela invasão da Ucrânia, um parceiro comercial do Maláui. Quando seus pais adoeceram e morreram em curto período de tempo, Tamara foi acolhida por sua avó.

No entanto, após um mês, sua avó compartilhou uma notícia preocupante com Tamara. Ela tinha recebido dinheiro de um homem que pretendia se casar com a jovem. Esse homem desconhecido pagou uma quantia pelo casamento de Tamara, e a avó já havia utilizado o dinheiro para comprar milho para a família. O homem estava impaciente e queria que Tamara deixasse a escola para viver com ele.

O casamento infantil é ilegal no Maláui desde 2017, mas ainda ocorre em comunidades rurais como a de Tamara, onde vive a maior parte da população do país. Segundo a ONG Girls Not Brides, mais de 40% das meninas do Maláui se casam antes dos 18 anos. Tamara vivenciou abusos físicos por parte de seu marido mais velho durante os três meses em que morou com ele, até que os serviços sociais foram alertados e a resgataram.

Ao se preparar para retornar à escola, Tamara descobriu que estava grávida aos 12 anos de idade. Ela continuou frequentando a escola mesmo durante a gravidez.

Ao longo do Maláui, há uma estação de rádio local chamada Rádio Mzati, que se dedica a discutir questões que afetam as jovens. Por meio do programa Ticheze Atsikana, que significa “Vamos conversar” em chichewa, as apresentadoras Chikondi Kuphata e Lucy Morris proporcionam um espaço para que as mulheres discutam assuntos relevantes.

O casamento infantil é um tema que o programa aborda devido à sua relevância no país. Segundo Lucy Morris, se as meninas conhecerem seus direitos, podem evitar o casamento precoce. O programa, patrocinado pela AGE Africa, uma ONG que busca garantir o acesso à educação para meninas vulneráveis, possui uma audiência de mais de 4 milhões de pessoas em todo o Maláui, principalmente mulheres de comunidades rurais, dentro das quais a realidade de Tamara foi vivenciada.

No vilarejo de Gulumba, localizado no sul da África, o casamento infantil é uma prática comum devido à pobreza das famílias. Para garantir o sustento das meninas, elas são enviadas para se casarem com homens mais velhos. No entanto, uma iniciativa chamada Ticheze Atsikan está trabalhando para mudar essa realidade.

O Ticheze Atsikan, que significa “Vamos Falar” em suaíli, é um clube de escuta para mulheres em Gulumba. Um dos objetivos desse grupo é encorajar as meninas a permanecerem na escola e a conhecerem seus direitos, para que possam buscar ajuda caso se encontrem em uma situação de casamento forçado.

O chefe local, Benson Kwelani, apoia o programa e se recusa a conceder sua bênção a casamentos em que a noiva tenha menos de 18 anos. Ele acredita que a educação é essencial para que as meninas possam buscar um futuro melhor.

O casamento infantil é uma questão global, com cerca de 650 milhões de mulheres hoje em dia tendo se casado antes dos 18 anos. O sul da Ásia é a região com o maior número de noivas crianças, seguido pela África Subsaariana. Em todo o mundo, cerca de 21% das meninas se casam na infância.

Embora tenha havido progresso na redução do casamento infantil na Ásia e na África nos últimos anos, as taxas na América Latina e no Caribe permanecem estagnadas há 25 anos. No entanto, a visita recente ao Maláui de Michelle Obama, Amal Clooney e Melinda French Gates resultou em mais financiamento para combater o casamento infantil no país.

As três ativistas estão apoiando organizações locais que lutam contra o casamento infantil. Elas buscam informar as meninas sobre seus direitos legais e ajudá-las a encontrar alternativas para essa prática prejudicial. Além disso, líderes locais, como chefes tradicionais, também estão se comprometendo a combater o casamento infantil em suas comunidades.

No entanto, alguns chefes admitiram que não podem ter certeza de que os casamentos infantis não ocorrem secretamente em suas comunidades. Mesmo assim, eles se esforçam para desencorajar e recusar esses casamentos quando os pais os procuram.

O casamento infantil é um problema complexo e difícil de ser combatido, mas iniciativas como o Ticheze Atsikan estão provando que a conscientização e o apoio podem fazer a diferença na vida das meninas. Com educação e conhecimento de seus direitos, elas podem buscar um futuro mais brilhante e evitar se tornarem vítimas do casamento precoce.

Em uma entrevista, George Mphonda, chefe de uma grande equipe, admitiu que o casamento infantil pode estar acontecendo em segredo. No entanto, ele afirmou que é responsabilidade dos líderes e da família evitarem esses casamentos.

Tamara, uma jovem do Maláui, teve um parto saudável com a ajuda de uma organização local chamada People Serving Girls At Risk. A ONG providenciou transporte para levá-la à clínica de saúde e continua prestando apoio a ela e à sua tia.

Apesar da preocupação com as complicações da gravidez e do parto em mulheres jovens, Tamara e seu filho estão bem. Agora, o desafio é conciliar a maternidade com a educação. A comunidade e a tia de Tamara oferecem suporte, mas o futuro ainda é incerto.

Tamara expressa o desejo de que seu filho, Prince, possa concluir os estudos. No entanto, a tia da jovem tem uma barraca de frutas e vegetais que não rende muito dinheiro, o que torna a situação financeira desafiadora.

Tamara ajuda na barraca e encontra suas amigas, muitas das quais também são mães adolescentes. A situação evidencia a necessidade de apoio e soluções para jovens mães.

O BBC 100 Women é uma iniciativa que reconhece e destaca o trabalho de mulheres influentes em todo o mundo. Através de documentários, reportagens e entrevistas, a BBC busca colocar as mulheres no centro das discussões e compartilhar essas histórias nas diferentes plataformas.

Para acompanhar mais sobre o BBC 100 Women, é possível seguir suas redes sociais e participar da conversa utilizando a hashtag #BBC100Women.






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